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Uma mulher à frente do consulado egípcio em São Paulo

Nashwa Bakr assumiu o posto de cônsul comercial do Egito em São Paulo em fevereiro. Ela falou à ANBA sobre sua carreira, primeiras impressões do Brasil e planos para estreitar os laços comerciais entre os países.

Uma mulher árabe moderna. Esse é o perfil da nova cônsul comercial do Egito em São Paulo, Nashwa Bakr. Cheia de sonhos mas com o pé no chão, de olho nas oportunidades de negócios entre os países, a diplomata contou em entrevista à ANBA sobre sua carreira, sua chegada ao Brasil e primeiras impressões, os desafios que enfrenta e quais seus planos para estreitar os laços comerciais e diplomáticos entre os países.

“Eu sempre quis seguir carreira diplomática, sempre gostei de viajar e conhecer outras culturas, novos aspectos sociais das nações, e sempre tive interesse em servir meu país, representando o Egito e mudando um pouco a percepção das pessoas de diferentes comunidades sobre as mulheres árabes. Acho que as pessoas tiveram uma boa impressão de mim aqui, as pessoas ficaram fascinadas pela imagem da mulher árabe moderna”, disse Bakr.

Nascida no Kuwait, onde seu pai trabalhava como professor de literatura inglesa na universidade, Bakr viveu no país do Golfo por 14 anos e depois voltou ao Egito para concluir os estudos. Lá cursou Administração e Economia.

A diplomata assumiu o posto em São Paulo em fevereiro, onde deve permanecer por quatro anos. Este é seu terceiro posto internacional, tendo passado quatro anos na República Tcheca e quatro anos na Turquia, onde também foi cônsul. Bakr trabalha na diplomacia comercial há vinte anos.

A cônsul pretende ampliar as relações comerciais entre os países, quer que as empresas brasileiras invistam no Egito e estabeleçam fábricas por lá, e quer também que os empresários brasileiros comprem mais produtos do país árabe.

Chegando no Brasil

Bakr enfrentou algumas dificuldades ao chegar ao Brasil por causa da pandemia. “A situação aqui estava diferente do Egito, lá a gente sabia que tinha a pandemia, mas a vida estava seguindo normalmente, não teve lockdown, nada fechou, continuamos indo trabalhar. E chegando aqui, duas semanas depois que eu cheguei, teve um novo lockdown, então foi difícil para mim porque eu tinha acabado de chegar, foi difícil de arranjar acomodação, manter meus contatos e meu trabalho. Foi assim por um mês, depois voltou a afrouxar as restrições e as coisas voltaram a fluir”, disse.

Sobre os brasileiros, a diplomata contou que achou as pessoas muito calorosas e dispostas a ajudar, e que isso chamou sua atenção. “Outra coisa que me impressionou foi saber que os brasileiros são fascinados pelo Egito, em todo lugar que eu dizia que era egípcia, as pessoas ficavam fascinadas, mencionavam Cleópatra, as pirâmides, as esfinges, a história. Nem todas as nações conhecem tão bem a história e a cultura do Egito como o Brasil, em muitos países que visitei as pessoas não conhecem sobre os faraós ou a história da civilização egípcia”, contou. Ela declarou amor ao país que se tornou seu lar há quatro meses. “Eu já amo o Brasil e já amo São Paulo”, disse.

Desafios

Para Bakr, o maior desafio em seu novo posto será fazer o mercado egípcio ser mais conhecido pelos empresários brasileiros, para que o Brasil compre mais do Egito. “Alguns empresários [brasileiros] são um pouco relutantes em fazer negócios com o Egito, eles não conhecem muito bem o país, a cultura de negócios, a situação econômica, como funcionam os acordos financeiros. Então muitas vezes é difícil convencer os empresários a fazer negócios com o Egito, especialmente em novos produtos, que eles ainda não estão acostumados ou não conhecem o mercado, nos setores de agricultura, têxtil, produtos alimentícios, entre outros”, disse a cônsul.

Acervo pessoal

A diplomata Nashwa Bakr: ‘Eu tenho grandes sonhos’

Segundo ela, o Brasil já tem uma boa imagem no Egito por ser um dos maiores exportadores de alimentos no mundo. “Do Brasil para o Egito, tudo é muito fácil, não tem problemas porque o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos para o mundo, não só para o Egito, é como a loja de segurança alimentar do mundo, o maior fornecedor de commodities, então tem uma boa imagem”, disse Bakr.

Então, o que é necessário fazer para o brasileiro comprar mais do Egito? Para a diplomata, o passo mais importante é o branding do produto egípcio, no sentido de vender mais produtos finais e menos produtos a granel, como azeitonas ou algodão egípcio, que são finalizados aqui e vendidos como produtos brasileiros.

Objetivos

“Eu tenho grandes sonhos”, disse Nashwa Bakr. “Eu não vejo as empresas brasileiras investindo no Egito, por exemplo. Há poucas, dá para contar nos dedos. Então, uma das minhas metas é levar os grandes players brasileiros de setores estratégicos para investir no Egito, como o de cosméticos brasileiros, para montar fábricas lá e começar a produzir e se aproximar mais desse mercado, e acredito que elas podem prosperar muito no Egito”, disse.

Ela ainda enfatizou que as marcas brasileiras podem se beneficiar dos 77 acordos de livre comércio que o Egito tem com países de todas as regiões do mundo, e deu como exemplo os setores de têxteis, produtos de couro, proteína animal, eletrônicos e fármacos.

“Minha estratégia é abordar as grandes empresas desses setores para conversar sobre isso. Esse é um plano de longo prazo. A curto prazo, queremos aumentar o comércio entre o Egito e o Brasil”, disse. Ela contou que desde que os citros entraram no acordo de livre comércio Mercosul-Egito, o Egito já exportou US$ 2,5 milhões em laranjas ao Brasil em quatro meses.

Mercosul

Sobre o acordo Mercosul-Egito, Bakr contou que deve haver uma reunião do comitê comercial entre junho e julho para revisar o acordo e as conquistas. “Não devemos adicionar nenhum novo produto neste momento porque já temos cerca de 50% dos produtos dentro do acordo, sem taxas, e até setembro vamos liberar novos produtos. O plano é que até o final de 2025, 100% dos produtos estejam dentro do acordo, sem impostos”, disse. Entre os produtos a serem liberados em setembro estão os setores de construção, têxtil e fibras, de acordo com a cônsul.

A diplomata disse que os números vêm crescendo para a importação de alho e azeitonas egípcias. “Quero apontar que somos o segundo exportador de azeitonas ao Brasil, atrás apenas da Argentina, segundo dados de 2020. Exportamos quase US$ 30 milhões”, celebrou.

Mulheres

Sobre a presença feminina nos negócios egípcios, Bakr disse que em uma reunião recente com empresárias ela aconselhou que tentassem vender para o Brasil cosméticos orgânicos e naturais, como henna e cremes corporais. “Acho que seria um bom nicho de mercado, produtos com ingredientes naturais e com nomes como Cleópatra e Nefertiti, pois sabemos que as rainhas egípcias foram as primeiras a utilizarem produtos cosméticos na história”, lembra. Ela também encorajou as empresárias a exportarem peças de decoração como réplicas de pirâmides, esfinges e estátuas de faraós.

 

Reportagem feita pela ANBA.

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